Hoje
iniciamos uma rubrica nova! Muito inspiradora! Como podem ver pelo nome, convidarei
pessoas que realmente me inspiram por variados motivos e que quero que conheçam
um bocadinho da sua história. A primeira é a Joana Feliciano, uma pessoa com
tanto por contar e descobrir!
Vale tanto
a pena ler a sua entrevista. Vamos a ela?
1. Para
quem não te conhece quem é a Joana Feliciano, de forma resumida?
Sou uma Sonhadora Praticante que
age com o coração e cérebro alinhados.
Nasci no dia que mais me assenta
e o celebro todos os dias – 10 de Dezembro, “Dia Internacional dos Direitos
Humanos” no ano de 1991. Cresci dentro da natureza e numa família modesta na
aldeia de Vila Nova no concelho de Tomar. O meu espírito desassossegado e uns
quantos bichos carpinteiros já me levaram nos últimos anos a viver por
diferentes períodos de tempo e por diferentes experiências e fase de vida em
Istambul, São Tomé e Príncipe e Lisboa.
Sou licenciada em Relações
Internacionais (ISCSP - Universidade de Lisboa e Fatïh University - Istambul),
Mestre em Marketing e Pós-Graduada em Gestão de Marketing, Comunicação e
Multimédia (ISEG – Universidade de Lisboa).
Já ultrapassei o marco dos 10
anos de experiência enquanto profissional de Marketing & Comunicação dentro
de empresas multinacionais desde as Tecnologias de Informação, Retalho,
Recursos Humanos, Hotelaria, Turismo, ao Imobiliário, e em Associações sem fins
lucrativos.
As problemáticas do mundo
inquietam-me e como tal não sou capaz de ficar indiferente ao que prejudica o
bem comum e vitimiza os direitos e a dignidade humana. A essa inquietude juntei
a minha curiosidade e o meu modo de estar focado no “fazer” onde em equipa fundei
e dirigi organizações do Terceiro Setor. Movo-me enquanto ativista voluntária
em várias missões nacionais e internacionais (i.e. São Tomé e Príncipe,
Grécia), sou formadora e mentora em projetos de empreendedorismo, essencialmente
sociais. À data que respondo sou responsável de Comunicação e Alianças
Estratégicas na Portugal com ACNUR, parceiro nacional da Agência das Nações
Unidas para os Refugiados.
Acredito na colaboração como
forma de fazer evoluir as pessoas, as comunidades e o mundo. Adoro fazer networking por isso convido, quem tiver interesse, em
conhecerem o meu espaço digital https://www.joanafeliciano.com/ para
conversarmos.
2. És
jovem, mas já tens mais de 10 anos de experiência na área de Marketing e
Comunicação. Assim, quais foram as maiores aprendizagens que guardaste ao
longo destes anos de “carreira”?
Listo algumas das maiores aprendizagens que trago dos
contextos profissionais, mas acima de tudo das pessoas que os compõem:
- Aprender a dizer ‘não dá’ seja a quem está
hierarquicamente por cima ou ao mesmo nível, ainda estou em contínuo processo
de aprendizagem neste;
- A carga quando partilhada custa menos a carregar – seja
o trabalho, as dores ou a escuta ativa;
- A vulnerabilidade será sempre um ato de coragem que nos
faz descer ao mesmo nível, nunca deve ser utilizada como “arma de arremesso”;
- Às vezes é preciso ver com um olhar mais demorado para
quem e o que nos rodeia;
- A medição de egos atrapalha mais do que ajuda aos
resultados;
- O “diz que disse” é a doença do século, perde-se muito
tempo a alimentar a negatividade. Para mim desejar o mal envenena o bem, não
gosto;
- Mais líder é quem tem a habilidade de escutar,
empoderar e a humildade de aprender;
- “Tirar” tempo para celebrar as conquistas individuais,
da equipa ou dos outros nunca é “tirar” mas sim somar.
3. Como
foi/é trabalhar com Associações com a WACT, UBUNTU UNITED NATIONS, HEForShe, entre
tantas outras? O que mais gostaste? O que achas que se pode melhorar no futuro
de forma prática nestas entidades? O que nós, “público” podemos fazer pelos
outros?
O que mais gostei é transversal a todas as organizações e
projetos por onde tenho passado e em grande parte deles mantenho-me: as
pessoas. Falo dos profissionais, das equipas de voluntariado, dos beneficiários,
parceiros… há imensas pessoas que nos restauram constantemente a fé que
alimento no bom e bem da humanidade.
Para apontar humildes sugestões de melhora prática nestas
ou noutras organizações seria injusto da minha parte fazê-lo sem maior contexto
e mais ponderação. No entanto posso apontar algo prático que constantemente
digo no setor social: mais partilha, mais colaboração e menos quintas de
cercas fechadas e olhos pregados no umbigo. Seja neste contexto social,
seja na sociedade no mais banal do dia a dia. Nem sempre é fácil, eu sei, mas
muitas vezes o trabalho em rede é chave para que todas as gotas se juntem para
fazer a onda no oceano que se pretende alcançar com impacto social.
O que a sociedade civil, o “público”, pode fazer? Levantar
mais vezes os olhos do ecrã, refletir e tomar a decisão de que não quer ser
apenas mais um no passar de mais um dia. Tomar as rédeas e contribuir na
causa que mais lhe faça inquietar o desejo pela mudança positiva para o bem
comum. Em termos práticos? Informemo-nos mais, doemos mais, façamos
voluntariado com verdadeiro sentido de compromisso e responsabilidade, sejamos
mais na vida de quem gostamos e de quem gosta de nós. Amanhã pode já não o ser.
4. Além
destas Associações, há uma outra que ocupa um lugar muito importante na tua
vida e no teu coração. A Solo Adventures, da qual és fundadora. Como
surgiu a ideia de a criares? De que forma se distingue das restantes?
Lembro-me de estar com amigos próximos na cozinha da
minha casa minúscula arrendada em Lisboa, a fazer desenhos imaginários na porta
enquanto tentava acompanhar a minha própria explicação de uma ideia que tinha.
Começava com: uma comunidade de Sonhadores Praticantes, com três pilares – pessoas,
projetos, partilha. Esta foi a ideia base, depois surgiu na minha cabeça as 3
montanhas – que hoje em dia estão na nossa marca, a representar os tais pilares
que uns meses mais tarde se converteram na nossa metodologia de prática:
autoconhecimento; autorrealização; ligações interpessoais.
O nome já o tinha “Solo Adventures” porque remetia para
um universo imagético de viagens, muitas pessoal pensavam que estava a fazer um
blog de viagens, mas eu gostava desse engano porque permitia-me fazer o twist de que ali as viagens eram as
pessoas.
Comecei por ter os canais digitais partilhando histórias
e lições de vida de pessoas comuns que faziam de tudo extraordinário na
esperança de inspirar que a mudança pode estar a uma história de vida de
distância e publicava alguns artigos complementares de reflexão e de
desenvolvimento pessoal.
À medida que mantinha o digital para ganhar presença na
vida de quem se identificava e se juntava à missão comecei a estruturar a
missão, valores, visão, projetos e tudo o que tinha na minha cabeça para um
papel repleto de esquemas e desenhos.
Depois foi começar a partilhar em conversas, a convidar
pessoas a acreditarem e a seguirmos caminho. Fizemos os nossos primeiros
eventos físicos, depois digitais e a bola de neve continuou a rodar até
chegarmos a uma casa de cerca de 50 voluntários de várias partes de Portugal e
até de outros países de língua portuguesa. Já não estávamos só, nunca mais
estaremos sós a trabalhar o desenvolvimento humano, bem-estar e saúde mental. Somos
os que acreditam que o nosso propósito é ajudar mais pessoas a encontrarem o(s)
seu(s).
Numa perspetiva de distinção como questionas podemos
colocar desta forma: a Solo Adventures olha para o universo do desenvolvimento
pessoal e as suas áreas similares com um foco na partilha e na criatividade. Gostamos
e não temos receio de sonhar, testar, praticar, ajustar e repraticar.
Gostamos de trabalhar em rede e colaboramos seja com outras organizações e/ou com
profissionais de diversas áreas para alimentar uma perspetiva de diversidade.
Os nossos projetos: “Partilhas Sonhadores Praticantes”, “Academia Sonhadores
Praticantes”, “Networking para a Mudança” e “Gratidão Social” desdobram-se em
várias iniciativas regulares e pontuais (e.g. eventos digitais, caminhadas,
jantares presenciais, formações, mentorias, capacitações, ebooks, áudio
artigos, etc) para que qualquer pessoa que se interesse sobre os temas que
tratamos possa escolher qual o tipo de ferramenta que contribui mais para o seu
autoconhecimento e desenvolvimento. Ninguém é chapa 5 por isso nós temos de ser
versáteis.
5. Dentro
da Solo Adventures (entre outras funções) também tens um papel muito ativo no
projeto (Re)Abrigar Novos Horizontes em que trabalhas com os utentes
voluntários da Associação Vida Autónoma (AVA) o programa de desenvolvimento
humano e mentoria. Como está a ser esta experiência? O que “mais levas
contigo” cada vez que chegas a casa depois de uma sessão destas?
A estruturação do projeto “(Re)Abrigar Novos
Horizontes” esteve ao meu encargo e atualmente sou voluntária com a restante
equipa da Solo Adventures na implementação junto dos utentes do nosso parceiro.
Este piloto está a correr bastante bem pelo feedback que temos recebido
mensalmente dos beneficiários e pontualmente do parceiro. Já tivemos a notícia
que gostariam de receber uma segunda edição no próximo ano, o que reforça a
nossa confiança e felicidade em contribuir para o autoconhecimento,
desenvolvimento pessoal/ profissional e ligações interpessoais das pessoas em
situação de sem abrigo que estão connosco. Depois de cada sessão fica o meu
e o nosso bem-estar de podermos contribuir diretamente para o retomar de rédeas
da vida dos beneficiários. São momentos de grande partilha emocional, de tempo
de escuta ativa e de mentoria para ajudar as pessoas a alcançarem os seus novos
objetivos de vida.
6. Para
além de tudo o que referi anteriormente trabalhas a full-time na Portugal com
ACNUR na área de Comunicação. Como é trabalhar diretamente com Refugiados
e com algumas situações delicadas que vão surgindo? Que pontos positivos
realças desta experiência?
No passado já trabalhei em regime de voluntariado diretamente
com os beneficiários em contexto de campo de refugiados. Atualmente não
trabalho na linha da frente com as pessoas refugiadas, apátridas, deslocadas e
requerentes de asilo, mas recebemos muitíssimos pedidos de ajuda que
reencaminhamos para a resposta técnica do ACNUR e dos seus parceiros. A Portugal
com ACNUR foca-se na sensibilização e mobilização de recursos para as
emergências humanitárias onde o ACNUR opera para aliviar o sofrimento de quem
foi obrigado a fugir da violência, conflito, perseguição e/ou catástrofes
naturais em mais de 135 países.
Para mim trabalhar diariamente neste âmbito é lidar com uma
realidade que não se pode ignorar, que precisa de estar presente para alertar que
quem sofre, quem desespera precisa de ajuda e nós podíamos ter os papéis
inversos, a qualquer momento.
Trabalhar nesta área é viver de uma forma muito
consciente e grata pelo que se tem e pela oportunidade de poder contribuir para
um lugar mais seguro, mais digno, mais justo e igualitário. Trabalho
para um dia eu e todas as respostas sociais não sejam mais necessárias porque
nesse dia ideal mais nenhuma pessoa será forçada a fugir deixando a sua vida em
suspenso. Um dia em que ninguém fique para trás.
7. Por
fim, quem te inspira diariamente, “Sonhadora Praticante”? O que te continua
a motivar a querer fazer o bem e a ajudar os outros diariamente?
As várias experiências de vida que tenho tido a
oportunidade de agarrar têm-me reconfirmado um dos meus propósitos, algo que me
move o leme da vida pessoal e profissional: empoderar pessoas e
organizações. Tendo essa força motriz intrínseca metade do caminho fica
feito, porque a minha automotivação mantém-se muito elevada para continuar a
trabalhar para o lado bom da força que acredito que cada um de nós tem em si.
Não tenho heróis
de referência na minha vida, mas guardo o que de bom observo de cada pessoa com
quem me cruzo, sejam líderes reconhecidos do grande público sejam pessoas
comuns como eu. Entre muitas frases de diversos autores destaco da autoria de
Madre Teresa de Calcutá que escutei num dos projetos onde estive envolvida e a
qual tenho sempre visível em casa e na minha mente pois revela uma parte do que
me motiva: “Não devemos permitir que alguém saia da nossa presença sem se
sentir melhor e mais feliz.” Espero que saias um pouco melhor depois de
tirares tempo para ler as minhas palavras.
Um abraço coloca sempre os corações de estranhos ou
conhecidos alinhados, toma um.
Que incrível partilha, obrigada querida Joana! Espreitem o site dela e descubram um pouco mais sobre esta "Sonhadora Praticante"!